A inclusão de Pessoas com Deficiência (PcDs) nas empresas vai muito além da adequação à Lei da Inclusão Social ou às demandas dos consumidores por um sociedade mais inclusiva. É necessário oferecer um ambiente de trabalho respeitoso e com chances reais de desenvolvimento profissional, o que está relacionado a saber como combater o capacitismo nas organizações.
O capacitismo, preconceito contra PcD, pode ser praticado tanto pelos colegas de trabalho quanto pela própria companhia ao subestimar a capacidade da pessoa com deficiência de executar as suas tarefas. Essa situação impacta no trabalho em equipe, no clima organizacional, além de infringir os direitos do colaborador com deficiência.
Quando uma empresa elimina esse problema, todas as partes envolvidas podem sair ganhando. Quer saber mais sobre o assunto? Neste post, vamos abordar o que é capacitismo, formas como costuma ocorrer e maneiras combatê-lo. Confira!
O que é capacitismo?
Embora ainda seja um termo pouco conhecido pela maioria das pessoas, o capacitismo é bastante recorrente na sociedade e nas empresas. Ele se refere a um tipo de discriminação que se caracteriza por julgar a pessoa com deficiência menos capaz do que os demais indivíduos.
De acordo com a Lei da Inclusão Social, o capacitismo é considerado crime. No Artigo 88, fica determinado que a prática, indução ou incitação à discriminação de pessoa devido à sua deficiência pode gerar pena de reclusão de um ano e três meses e multa.
Geralmente, esse tipo de preconceito é manifestado a partir de palavras e ações que, quase sempre, estão enraizadas na sociedade, o que faz com que as pessoas que o praticam, muitas vezes, não se deem conta que as suas atitudes podem ter consequências negativas na vida da pessoa com deficiência.
Quais são os exemplos de capacitismo nas empresas?
A prática do capacitismo nas empresas pode se dar de formas diferentes, que podem ocorrer de modo intencional ou por falta de conhecimento. Atentar-se para essas microagressões é fundamental para inibi-las. Veja, a seguir, alguns dos principais exemplos de capacitismo no ambiente de trabalho.
Uso de expressões capacitistas
As expressões e falas capacitistas são muito comuns na sociedade e, consequentemente, acabam sendo reproduzidas no ambiente de trabalho. Algumas delas são:
- ‘’dar uma de João sem braço’’;
- ‘’ficar cego(a) de raiva’’;
- ‘’fingir demência’’;
- ‘’estar mal das pernas’’;
- ‘’você está surdo(a)?’’;
- ‘’você é retardado(a)?’’;
- ‘’dar uma mancada’’;
- ‘’mongoloide’’;
- ‘’ficou mudo(a)’’;
- ‘’você é uma pessoa especial’’.
O uso dessas expressões é equivocado e pode constranger o colaborador, logo, elas devem ser substituídas por termos mais adequados. A expressão ‘’João sem braço’’, por exemplo, pode ser modificada para ‘’pessoa que se faz de desentendida’’.
Supervalorização de tarefas simples
Mesmo na intenção de acolher o profissional com deficiência, os colegas de trabalho podem cometer capacitismo. Essa situação fica explícita diante da supervalorização de tarefas simples que fazem parte do cotidiano da pessoa com deficiência.
Assim, ao entregar uma tarefa, o colaborador pode ser excessivamente parabenizado, o que não aconteceria com alguém que não tem deficiência.
Demonstração de surpresa pelas suas realizações
Uma pessoa com deficiência é plenamente capaz de cursar uma graduação, fazer cursos de capacitação, conseguir um emprego, viajar, se relacionar, construir uma família e construir uma carreira de sucesso. Demonstrar surpresa por essas e outras realizações é uma forma de capacitismo.
Tratamento infantilizado
O tratamento infantilizado, como oferecer ajuda para tudo que a pessoa vai fazer, sem que ela tenha solicitado ajuda, é um tipo de preconceito. O mesmo vale para quando o profissional PcD é tratado como um ser angelical, que não tem sentimentos normais em um ser humano, como raiva e frustração.
Bullying
A prática de bullying com colaboradores PcD pode ser classificada como o capacitismo intencional, que é quando o agressor tem a intenção de causar mal-estar às vítimas. Os episódios de bullying podem acontecer a partir de falas ou ações discriminatórias, desrespeitosas ou ‘’brincadeiras’’ desagradáveis e constrangedoras.
Exclusão
A crença equivocada de que uma pessoa com deficiência não é capaz de desenvolver um bom trabalho pode fazer com que colegas de trabalho a excluam de atividades em grupo ou não deem importância para suas sugestões, ideias e propostas.
Quais são as suas consequências?
Negligenciar a prática de capacitismo no ambiente de trabalho gera consequências negativas tanto para o colaborador PcD quanto para a empresa. Em se tratando do profissional, a tendência é que ele não se sinta bem aceito pelos colegas de trabalho, nem integrada à equipe.
Ele também pode se sentir constrangido e ofendido, o que pode levar ao seu isolamento no trabalho. Assim, o colaborador perde a oportunidade de desenvolver e aplicar os seus conhecimentos e, ao longo do tempo, pode se desligar da empresa.
No que se refere aos perigos do capacitismo para a organização, um dos principais deles é a piora do clima organizacional, em decorrência do mal-estar que se instala entre os funcionários e que, inevitavelmente, atinge a produtividade da companhia.
Além disso, quando o profissional com deficiência é impedido de participar de projetos relevantes, por exemplo, a organização perde a chance de receber contribuições criativas e de explorar os seus talentos e habilidades.
Como combater o capacitismo na empresa?
Não basta oferecer vagas PcD para ser uma empresa inclusiva. É necessário combater o capacitismo. Para tanto, é necessário rever processos internos e, principalmente, investir na conscientização da sua equipe. Confira a seguir como combater o capacitismo na sua organização.
Faça um recrutamento pautado nas atribuições do cargo
O combate ao capacitismo começa pelo recrutamento, que deve ser pautado pelas atribuições exigidas para exercer o cargo disponível na empresa, não pela deficiência do candidato.
Sendo assim, se a pessoa consegue executar as atividades da função, significa que está apta para o trabalho, independentemente da sua condição. O processo seletivo também deve tratar os candidatos de forma igual, para que todos tenham as mesmas chances na disputa pela vaga.
Invista na conscientização dos colaboradores
Dos líderes e gestores aos colaboradores, é fundamental que todas as pessoas que fazem parte do ambiente de trabalho da empresa estejam preparadas para lidar com os profissionais PcD.
Para isso, é recomendável investir na conscientização do seu público interno, o que pode ser feito a partir da oferta de palestras, treinamentos e dinâmicas relacionadas ao tema. A organização também pode oferecer cursos gratuitos, como de Libras, para uma comunicação inclusiva.
E, sempre que possível, abra espaço para que os colaboradores com deficiência compartilhem suas experiências e visão sobre o capacitismo, já que eles têm lugar de fala para apontar erros de tratamento e condições que consideram discriminatórias para a sua condição.
Promova trabalhos em grupo
Implementar políticas de trabalho em grupo e realizar atividades colaborativas é uma iniciativa imprescindível para integrar os colaboradores, fazendo com que os profissionais PcD tenham a oportunidade de interagir com os seus colegas e trocar experiências, em vez de atuarem de forma isolada na empresa.
Com isso, a organização está realmente sendo inclusiva, e não apenas contratando PcDs para cumprir uma lei. A companhia também deve assegurar que nas atividades em grupo a pessoa com deficiência tenha as mesmas oportunidades de participação que os demais colaboradores.
Garanta a acessibilidade no ambiente de trabalho
A acessibilidade no ambiente de trabalho dá mais autonomia para a pessoa com deficiência, permitindo que ela tenha total condição de desenvolver as atividades para as quais foi contratada.
É preciso preparar a estrutura física da organização para receber os profissionais, como a instalação de rampas e banheiros adaptados, além de oferecer tecnologias assistivas condizentes com as condições dos profissionais contratos. Em caso de profissionais com deficiência auditiva, por exemplo, vale ter atenção à forma como são feitas as reuniões online.
Como mostramos ao longo deste conteúdo, o capacitismo pode ser velado, não intencional ou intencional, e causar danos para o profissional e para a empresa. Ao aprender como combater o capacitismo, você pode contribuir para um ambiente de trabalho mais inclusivo, livre do preconceito e saudável para todos.
Achou este post interessante? Compartilhe-o nas suas redes sociais e mostre para os seus amigos como combater o capacitismo nas empresas!