A pandemia de Covid-19 mostrou para muitas empresas que é possível trabalhar de forma remota sem perder a produtividade. Inclusive, o trabalho híbrido é apontado como uma das grandes tendências para o RH em 2021, com uma taxa de 41,88% de respostas, conforme a pesquisa da Catho.
Segundo Renato Monzani, Coordenador de Operações e Estratégia Comercial da Catho, “O trabalho remoto tende a trazer uma autonomia muito maior para as pessoas, ao mesmo tempo que abre espaço para que o protagonismo de carreira aconteça”. Ainda assim, o RH se encontra em um cenário desafiador, especialmente por causa da velocidade com que o modelo tem sido adotado.
Afinal, como funciona o trabalho híbrido? Quais são as maiores dificuldades para implementá-lo e qual é o papel do RH nesse processo? Continue conosco e entenda!
O que é o trabalho híbrido?
O trabalho híbrido é aquele em que os colaboradores da empresa recebem autonomia para escolher como, quando e onde realizam suas atividades profissionais: no escritório tradicional, em home office ou em coworkings. Assim, o trabalho híbrido é uma junção das vantagens do trabalho presencial e do remoto.
Esse modelo de trabalho faz parte do fenômeno cultural Anywhere Office, que vemos acontecer no mundo todo e permite essa flexibilidade aos funcionários de trabalharem em espaços variados, de acordo com o seu perfil e a sua conjuntura. Isso faz com que as pessoas desenvolvam habilidades que trarão um impacto positivo aos resultados da empresa, assim como à própria vida pessoal e profissional.
“As pessoas aprendem a ser mais autônomas e a controlar a sua agenda, as suas entregas. É claro que elas usavam ferramentas quando estavam no presencial, mas os recursos mais organizados e estruturados do modelo remoto fazem com que tenham mais independência, e isso faz com que a curva de crescimento e desenvolvimento de carreira seja mais acentuada do que no modelo presencial.” — Renato Monzani
Essa percepção é o próprio futuro do trabalho: um cenário que atende às necessidades de todos os colaboradores e oferece uma experiência profissional mais gratificante. Em troca, essa cultura potencializa o valor que eles retornam à empresa.
Dessa forma, podemos destacar como benefícios do modelo híbrido de trabalho:
- ganho de qualidade de vida;
- liberdade e flexibilidade para trabalhar de onde quiser;
- aumento da produtividade;
- clima organizacional positivo;
- redução de custos;
- maior espaço para o profissional ser protagonista;
- aprendizado para se manter organizado e trabalhar melhor com prazos.
Outra grande vantagem do modelo híbrido de trabalho é a comunicação assíncrona, em que a troca de mensagens é atemporal. “A comunicação assíncrona certamente aumenta a produtividade. Eu posso falar um tema com uma pessoa agora, ao mesmo tempo um outro tema com outra e mais um outro com uma terceira pessoa e eu vou resolver os três pontos no mesmo momento, sem eu ter que parar ninguém”, comenta Renato.
O contrato de trabalho híbrido
Uma das principais dúvidas que pairam sobre esse modelo diz respeito ao contrato de trabalho. Assim, é importante esclarecer que o trabalho híbrido não é regulamentado por nenhuma legislação brasileira, isto é, não há diretrizes prontas que as organizações devem seguir.
Embora a Reforma Trabalhista de 2017 tenha incorporado o trabalho remoto à CLT, formalizando essa modalidade no país, ainda não existe uma definição legal sobre o que é o regime híbrido, o que gera muitas incertezas aos gestores. Uma vez que o trabalho híbrido mescla os conceitos do trabalho presencial com o remoto, as recomendações são para reconhecer as necessidades da empresa e dos funcionários para buscar as melhores soluções para o caso.
Ou seja, a orientação primária é que gestores e colaboradores dialoguem para chegar a um acordo comum. Isso quer dizer que as empresas estão criando políticas internas próprias: umas voltam-se a regras parecidas às do trabalho remoto, enquanto outras encontram soluções similares ao presencial.
Segundo advogados trabalhistas, as principais questões a serem definidas são a divisão de custos, a segurança dos colaboradores e o controle da jornada. Falaremos melhor sobre esses pontos no próximo tópico.
Quais são os desafios do modelo híbrido de trabalho e como contorná-los?
As dificuldades do RH frente a veloz mudança nos regimes de trabalho não se resumem ao contrato do modelo híbrido. Começam na sua implementação, mas permeiam outros processos dentro da empresa.
Porém, é possível superá-las. A seguir, listamos os principais desafios e trazemos alguns insights para você, veja só.
Proporcionar o protagonismo e o desenvolvimento de pessoas em início de carreira
As pessoas, principalmente em início de carreira, têm a percepção de que há uma abertura maior na empresa quando o trabalho é presencial. Enquanto no modelo híbrido os colaboradores tendem a ter uma cautela excessiva para chamar um gestor, no presencial você faz isso na mesa ao lado.
“A pessoa está ali, tomando um café, e você aproveita esse momento e tira uma dúvida, aprende algo novo. Posso virar para a mesa ao lado, do meu companheiro, e falar que estou com uma dificuldade: você já viu isso? Consegue me ajudar aqui? Isso dá ganho de agilidade, porque a pessoa tem uma maior clareza da disponibilidade de um profissional de maior experiência”, comenta Renato.
Entretanto, para o coordenador, a confiança sentida no modelo presencial não precisa ser deixada de lado quando o assunto é desenvolver a carreira dos colaboradores no regime híbrido. O segredo é deixar claro o protagonismo de carreira, mostrando que o colaborador tem voz na empresa e deixando-o à vontade desde o primeiro contato.
Em meio a esse contexto, é importante gerar um entendimento de como identificar as oportunidades para o protagonismo dentro da organização. Nesse sentido, é importante fortalecer as lideranças, e Renato acredita que o modelo híbrido de trabalho promova isso.
“As pessoas têm muito mais abertura e chances de se expor no modelo remoto ou híbrido do que no presencial. Quando você está no remoto, participando de uma reunião com 15 pessoas, você se sente mais confortável para levantar a mão e falar, porque tem essa liberdade, a gente sente que a liberdade é maior nesse modelo. O trabalho remoto dá, assim, muito espaço para que o protagonismo de carreira aconteça.” — Renato Monzani
O especialista comenta ainda que as pessoas em início de carreira naturalmente precisam de uma atenção maior, já que estão em uma curva de aprendizagem mais acentuada do que a de uma pessoa que já está em uma posição um pouco mais alta. De qualquer forma, em todas as fases da carreira dos colaboradores, o apoio dos BPs (Business Partners) e do RH é essencial para dar segurança aos funcionários, incentivando-os a criarem o próprio caminho.
Fazer o controle de horas trabalhadas
Como não existe uma definição legal de trabalho híbrido, é importante que as empresas tomem cuidado para não caracterizar o modelo remoto ao implementarem o híbrido. Por exemplo, se um colaborador está em home office e vai à sede uma vez por mês para uma reunião, então está em teletrabalho e não marca ponto.
Agora, se um funcionário tem diversos compromissos presenciais e eventualmente trabalha de casa, o recomendado é aplicar as normas do modelo presencial. O diálogo continua sendo a palavra de ordem, e o ideal é que a empresa acerte com o colaborador ou estabeleça um acordo com o sindicado sobre os conceitos dos modelos de trabalho.
Depois dos acertos, uma solução encontrada por diversas empresas é o ponto digital. Esse sistema pode ser utilizado na sede da empresa e em aplicativos para uso no computador ou smartphone.
Programar uma ajuda de custos
No regime de trabalho remoto, não existe uma regra que obrigue a empresa a fornecer os equipamentos para a realização das atividades nem a reembolsar as despesas dos colaboradores com gastos de infraestrutura. A lei deixa uma brecha para que ambas as partes possam negociar livremente.
Contudo, no contexto atual, muitos empregadores têm fornecido o equipamento básico em comodato gratuito, emprestando o notebook ou pagando a conta de luz, por exemplo. É importante ressaltar que dar um suporte de custo não é obrigatório, mas se algum auxílio for dado, deve estar detalhado no contrato.
Manter a coesão da cultura organizacional
Muitas empresas passam anos construindo sua cultura organizacional. Como na maioria das vezes a cultura está associada à missão, à visão, aos valores e, também, às ações orgânicas adquiridas pela percepção e experiência no dia a dia, no trabalho híbrido, mantê-la pode ser um verdadeiro desafio.
Cabe ao RH ter uma compreensão profunda a respeito da cultura da empresa para que os gestores encontrem meios de mantê-la coesa, assegurando aos colaboradores o sentimento de pertencimento.
“Eu tenho que acreditar que aquilo está acontecendo. Se a pessoa colocou ali, num material, num roadmap, eu tenho que acreditar que ela vai fazer. Então, inevitavelmente, eu dou mais autonomia e independência para aquele colaborador. Assim, o nível de comprometimento acaba sendo maior”, explica Renato.
Aqui, também é válido revisar essa cultura e torná-la mais flexível, de acordo com a conjuntura. Todos estamos aprendendo lições quanto a sermos produtivos e flexíveis. Por isso, o RH deve garantir o equilíbrio entre a linha tênue que se forma entre trabalho e vida pessoal — se o trabalho híbrido é “a união do melhor dos mundos”, então é preciso atuar sob essa perspectiva.
Promover a segurança do trabalhador
Quanto à segurança dos colaboradores, as maiores preocupações giram em torno da ergonomia, dos acidentes laborais e, mais recentemente, dos protocolos de segurança contra o coronavírus. Como dissemos, no modelo remoto, as empresas não são obrigadas a fornecer os equipamentos, embora seja recomendado que instruam seus colaboradores a adotarem boas práticas.
Em um cenário ideal, computador, mesa, cadeira e iluminação seriam disponibilizados para cada trabalhador. Na prática, sabemos que isso é custoso e pouco factível. Porém, é aconselhável auxiliar os funcionários nessa adaptação, fornecendo as cadeiras ergonômicas ao menos.
Também é preciso ter atenção aos acidentes de trabalho. Caso o colaborador sofra um infortúnio tipicamente doméstico durante a sua jornada, não é considerado acidente laboral. Por outro lado, se o funcionário desenvolver uma doença osteomuscular (como tendinite, bursite etc.), pode-se associá-la à falta de um ambiente de trabalho adequado à ergonomia.
Manter a organização pessoal e das equipes
Manter o foco e a motivação dos colaboradores no trabalho híbrido não é tarefa fácil. Aqui, a grande aliada dos gestores é a tecnologia, que permite que os dados e as informações dos projetos possam ser acessados de qualquer lugar, simultaneamente, além de possibilitar reuniões rápidas e produtivas a distância.
O próprio modelo remoto, que exige mais autonomia das pessoas para que cumpram suas tarefas, favorece a cultura colaborativa e requer mais disciplina para manter o fluxo dos processos. Porém, é responsabilidade da empresa adotar aplicativos e plataformas que facilitem a comunicação interna, a documentação e o acompanhamento das tarefas realizadas pelas equipes híbridas.
Estimular o uso de ferramentas de produtividade e comunicação de times, como Slack, Google Drive, Google Agenda, Trello e Monday, é ótimo para manter a organização. Nessa questão, Renato afirma que “ninguém precisa nascer sabendo usar as ferramentas, às vezes não é simples. Incentivar e deixar disponíveis materiais que apoiem esse tipo de uso faz com que a pessoa entenda que aquilo é para melhorar o desempenho dela” e finaliza dizendo que “treinamento é fundamental”.
A implementação de metodologias ágeis como forma de desburocratizar processos e promover fluidez no andamento dos projetos é outra aliada do RH. Para o coordenador, esse é um caminho sem volta, já que conhecer essas metodologias ajuda, inclusive, na definição e no acompanhamento das metas.
Garantir a segurança da informação
Falando em facilitar o acesso às informações de trabalho de qualquer lugar, é essencial que a empresa assuma o controle da cibersegurança, mesmo que não tenha disponibilizado infraestrutura (internet e computador) aos seus colaboradores em comum acordo.
Aí entram os sistemas de armazenamento em nuvem e os bons softwares, bem como ações simples de proteção de dados, como criar redes privadas, instalar antivírus corporativo e Wi-Fi seguro, a fim de evitar vazamentos prejudiciais à empresa. Além disso, deve-se ter amplo conhecimento da LGPD para que a organização controle as licenças de coleta e uso de dados dos usuários.
Qual é o papel do RH no trabalho híbrido?
Como dissemos ao longo do artigo, o RH desempenha um papel central na implementação e facilitação do trabalho híbrido. Neste último tópico, relembramos e listamos algumas ações que o profissional de RH pode fazer para tornar esse processo mais fluido para a empresa e os colaboradores:
- deixe as pessoas à vontade desde o primeiro contato com a empresa (durante a entrevista de contratação);
- mostre que o colaborador tem voz na empresa;
- deixe claro a importância do protagonismo de carreira no trabalho híbrido;
- explique os rituais e as metas da empresa com clareza, trazendo o colaborador para a realidade da organização;
- apoie as lideranças e ensine como avaliar e cobrar seus times, atuar na mediação de conflitos e orientar sobre o funcionamento da avaliação de desempenho;
- assuma o papel de facilitador e o de mentor dos líderes para que lidem bem com o modelo híbrido e possam manter e replicar a cultura organizacional;
- pratique a educação continuada e busque empresas que treinem para a cultura remota;
- use a rede para aprender e se qualificar a partir de fontes variadas.
Muito se fala que a pandemia antecipou tendências socioculturais e de mercado, e o trabalho híbrido é a prova de que o futuro já chegou. Considerando que a flexibilidade na jornada não interfere na produtividade dos colaboradores, tudo indica que esse modelo permanecerá, independentemente da pandemia.
Outra boa maneira de manter o engajamento dos colaboradores é definir uma política de benefícios. Então, saiba agora como alinhar a política de benefícios com a cultura da empresa!
Mudanças e inovações é necessário na conjuntura da realidade que estamos vivenciando.
Ei, Afonso!
Obrigada pelo comentário!