Levantar da cama, tomar um café, deslocar-se até o escritório, ligar o computador. Para muitos empregados no Brasil e no mundo, essa sequência de atividades cotidianas às vezes representa um dilema repleto de perguntas, como “Por que estou me submetendo a isso?”. Ocasionalmente, tal fenômeno ocorre pois o local de trabalho ao qual essas pessoas comparecem todos os dias se tornou tóxico e insalubre tanto do ponto de vista mental quanto emocional.
“Em um ambiente dinâmico, onde velocidade, qualidade e capacidade de aprender com o novo convivem juntas, é possível que algumas pessoas tenham mais dificuldade de equilibrar todos os pratos ao mesmo tempo”, analisa Simone Damazio, gerente de Desenvolvimento Organizacional da Catho. “Nesse cenário, frequentemente se notam expectativas e entregas desalinhadas, e então pode ser gerado um ambiente mais ‘insalubre'”.
A queda de qualidade do ambiente de trabalho pode ocorrer de várias formas: por exemplo, mudanças nos processos de uma determinada área às vezes demandam novas competências dos profissionais, os quais precisam se adaptar rapidamente. Isso pode impactá-los e causar frustrações se o resultado esperado pelos gestores não for alcançado. Outro caso semelhante se dá quando a empresa descobre, após a contratação, que o funcionário não está alinhado com o trabalho, causando sofrimento para o profissional.
É preciso, então, impedir a deterioração do clima de trabalho para assegurar tanto a produtividade quanto a saúde emocional dos funcionários. E quem tem o protagonismo natural nesse processo? O departamento de Recursos Humanos. “Uma peça-chave é que os líderes estejam bem antenados no que está ocorrendo no ambiente, seja através de conversas, reuniões de escuta ou até mesmo através de pesquisas que medem a ‘temperatura do ambiente'”, diz Damazio.
A confiança é essencial
Segundo a gerente da Catho, um ambiente de trabalho saudável é aquele onde existe confiança. Nele, o colaborador acredita no julgamento dos seus gestores; tem orgulho do que faz e gosta de seus colegas.
“Para criar esse clima, um dos caminhos mais interessantes para o RH pode ser a capacitação dos gestores como líderes que apoiem o desenvolvimento do colaborador em todas as esferas, ajudando-o a alinhar o tamanho de suas entregas, objetivos e projetos”, diz ela. Estimular a capacidade de aprender continuamente, além de reconhecer o esforço, é uma das tarefas principais dos supervisores.
Mais do que desenvolver a liderança, a gerente da Catho aconselha a prática de ouvir os colaboradores, seja por meio de conversas constantes, como mencionado acima, ou até mesmo por meio de pesquisas sobre o ambiente de trabalho. “Investigar como está o clima, com certeza, pode ser uma ação aplicada para apoiar a construção de um plano de ação em conjunto com os funcionários”, aconselha Damazio.
Como prevenir o problema?
É importante que essa preocupação esteja presente no dia a dia do departamento de RH antes mesmo da queda na qualidade da atmosfera de trabalho. Para isso, Damazio aconselha três frentes de ação:
- Capacitação da liderança nas práticas de gestão de pessoas, ajudando a entender como contratar profissionais que se encaixem na cultura da empresa e no ritmo das tarefas, sem maiores danos à saúde física e emocional dos funcionários;
- Estimular os gestores a dialogarem com os funcionários sobre seus objetivos, realizando conversas de desenvolvimento e sempre oferecendo feedback para o time;
- Capacitar os líderes para gerir da melhor forma as emoções dos funcionários e construir um ambiente de confiança.
“Ou seja, o RH pode apoiar os líderes no processo de implementação de práticas importantes para a gestão do ambiente. Isso tem a ver com habilidades como desenvolver, escutar, falar, agradecer, celebrar, dentre outros”, conclui ela.
Como sanar o problema?
Porém, se o clima no local de trabalho já se tornou pouco saudável, é preciso pôr em prática medidas de contenção.
“Implementar os planos de ação construídos coletivamente tem se mostrado com alto grau de eficácia”, diz a gerente da Catho. Uma vez mapeados quais são as atividades, processos, pessoas ou comportamentos que interferem na dinâmica de trabalho do grupo ou dos indivíduos e causam o esgotamento emocional, fica mais fácil priorizar a correção de rota e criar as oportunidades de desenvolvimento para tornar o ambiente mais saudável.
Legitimidade
Frequentemente, os funcionários não depositam confiança nas iniciativas da empresa de criar e manter um clima saudável e de colaboração entre os colegas de trabalho. Por isso, é essencial que o RH esteja sempre atento para gerar um ambiente de confiança, construindo essa relação entre colaboradores e gestores.
Como fazer isso? Ser quase “frenético” pela implantação de iniciativas e ações. Esse processo deve ser realizado de forma paulatina e transparente. “Buscar a colaboração do time ajuda muito mais do que o gestor colocar a mão na massa sozinho. Se o time participa da construção das ações para melhorar o ambiente, passa a acreditar e a se comprometer com as iniciativas. Com isso, evitamos que os colaboradores sejam apenas espectadores e passem a ser protagonistas”, aconselha Damazio.
Por fim, vale mencionar que implementar esse processo não é uma tarefa cumprida do dia para a noite, e sim construída a várias mãos. E você, gestor ou profissional de RH, como tem lidado com a questão?