Um dos grandes aprendizados em gestão de pessoas é que cada pessoa se motiva de um jeito. Existem colaboradores que preferem uma compensação financeira e outros que priorizam a qualidade de vida. É ilusão achar que todos os benefícios motivarão a todas as pessoas. Você verá que seu investimento em determinado benefício não é valorizado por alguns, ou nem é visto como um benefício. Um bom pacote considera as diferenças pessoais e fatores como missão, estratégia e o tipo de atitude que sua empresa precisa para manter os funcionários motivados.
Os benefícios devem ser considerados uma maneira de reter talentos e também de criar sentido para o trabalho, de traduzir a cultura da empresa. Para definir quais benefícios oferecer aos colaboradores, as MPEs (micro e pequenas empresas) devem levar alguns aspectos em consideração:
a) Cultura e valores da empresa: que componentes da cultura e valores da empresa podem ser traduzidos nos benefícios que são dados aos colaboradores? Se a empresa valoriza a saúde física e mental, pode-se investir em algum aspecto além do plano de saúde, que muitas vezes só é um benefício quando a pessoa já está doente. Se a empresa valoriza um ambiente criativo e informal, uma sala de descanso descontraída pode ajudar o pensamento fora da caixa. Se a qualidade de vida é um ponto crucial, pode-se implantar um programa de home office parcial, em que todos possam aderir com algumas horas por semana ou hora de entrada/saída flexível, para fugir do pico de trânsito.
b) Metas da empresa: tudo tem de estar alinhado à estratégia da empresa, os benefícios também. Todos os benefícios citados acima podem ser interpretados como motivacionais, mas também podem contribuir com menor índice de turnover, atração e retenção de talentos, maior produtividade e inovação. Outros também contribuem para a estratégia, como bolsa de estudo para cursos que diferenciem a empresa em seu segmento, intercâmbios, etc
c) Finalmente, cada gestor deve analisar o que se pode fazer, de acordo com o porte e lucratividade da empresa. Uma micro ou pequena nem sempre consegue oferecer um pacote de benefícios comparado ao que uma grande oferece. Mas com um pouco de criatividade e, principalmente, conhecimento do que motiva os seus colaboradores, é possível criar um pacote flexível que contribua com a retenção e motivação de talentos.
Segundo a sócia-diretora, Rosangela Souza* da Companhia de Idiomas, “A principal inovação que vejo é a empresa motivar o colaborador a escolher qual benefício ele prefere. Em cada etapa da vida, você valoriza determinados benefícios. Na minha empresa temos um pacote para todos, mas alguns deles já são flexíveis: se o colaborador já tem um plano de saúde da família, não precisa aderir ao nosso. Pode trocar este benefício por uma bolsa de estudo. Se ele prefere almoçar em casa ou qualquer outra alternativa, pode trocar o vale-refeição pelo vale-alimentação e usar o valor no supermercado. Aqui as pessoas precisam aprender a fazer escolhas, tomar decisões na gestão da empresa. E já começa nos benefícios. O pacote é parte da estratégia”.
A empresa de idiomas também oferece outras opções aos seus colaboradores. O Banco de Horas é bem administrado. Um colaborador tem todas as suas horas trabalhadas consideradas no banco e poder descansar ou utilizar as horas para compromissos pessoais. Quando a empresa precisa de um esforço extra, ele está lá. E quando ele precisa de horas para cuidar da vida, a empresa entende. Tudo documentado e transparente. O Home Office também é visto como um benefício. “Todos os colaboradores podem trabalhar duas horas por semana de casa. E as mães cujos filhos não estão bem podem optar por não trabalhar e compensar depois, ou trabalhar de casa naquele dia. Nossas profissionais grávidas começam a trabalhar de casa a partir do sétimo ou oitavo mês, não precisam se deslocar, podendo intercalar trabalho com descanso adequado. E após a licença-maternidade e as férias, elas podem ficar ainda alguns meses em casa, trabalhando no modelo home office”, acrescenta Rosangela. Aulas de yoga para funcionários, com 85% de aderência, também foi outra iniciativa da empreendedora. A empresa paga uma vez por semana, e os funcionários optaram por pagar uma segunda aula na semana, no espaço da empresa. Muito mais barato que a empresa pagar academia para cada um – benefício inviável para as micros. O café da manhã saudável, com frutas e pão integral diariamente também é um benefício simples, oferecido pela empresa. O Plano Odontológico também é possível, pois o investimento é baixo. Estes benefícios requerem sensibilização e um certo monitoramento. Também oferecem Bolsa de Estudo por um ano, para os Melhores do Ano, identificados no Feedback 360º. Alguns usam esta bolsa para intercâmbio, e a empresa aceita. Além do curso de inglês e português para todos, por causa do segmento em que a empresa atua.
Alguns benefícios clássicos também são oferecidos pela Companhia de Idiomas, mas são mais caros e nem sempre viáveis para todas as micro e pequenas. São eles: Plano de Saúde, Vale-Alimentação ou Refeição e Plano de Previdência Privada. Escolher e implantar benefícios não é uma tarefa fácil. Mostrar que a empresa cuida da qualidade de vida não é realizar um evento por ano. É também não sobrecarregar as pessoas com trabalho, cursos, happy hours, viagens. Qualidade de vida tem muito a ver com a possibilidade de escolher o que quer fazer do seu tempo, pelo menos de parte dele, senão a pessoa não entende porque está tão infeliz, fazendo tanta coisa diferente. Provavelmente não está conseguindo escolher nada. Ou não vê sentido no que está fazendo. E retenção de talentos tem a ver com sentido, identidade do que se é com o que se faz.
Rosangela alerta: “O pequeno empresário geralmente faz tudo com o coração e acaba tendo alta expectativa de elogios de um time motivado, toda vez que implementa qualquer benefício. Deve saber que, o que quer que implemente, alguns vão adorar e falar, outros vão adorar mas não vão falar, e outros vão até reclamar. Não pode se frustrar, tem de observar se a reclamação é pertinente, ajustar se for o caso, mas não desistir, pois há muitos satisfeitos silenciosos.”
Rosangela Souza é fundadora e sócia-diretora da Companhia de Idiomas e do ProfCerto. Formada em Letras e Tradução/Interpretação pela Unibero, é especialista em Gestão Empresarial com MBA pela FGV e Professora de Estratégia na Pós-Graduação da FGV/Santo André. Desenvolveu projetos acadêmicos sobre segmento de idiomas, planejamento estratégico e indicadores de desempenho para MPMEs. Atualmente é aluna de Pós–MBA da FIA/USP.