Nem toda pequena empresa tem um setor de recursos humanos estruturado e apto para gerenciar pessoas, e isso reflete diretamente em seu crescimento. Muito mais do que entrevistar, selecionar, contratar e demitir funcionários, a gestão de pessoas é responsável por agregar valor, cuidar, supervisionar e motivar os colaboradores de uma organização.
Tendência no mundo corporativo, a valorização dos colaboradores nada mais é do que zelar pela integridade da imagem da empresa e pelos direitos dos funcionários. Em outras palavras, é motivá-los para que possam desempenhar da melhor forma o seu trabalho, alcançando assim os objetivos organizacionais de modo eficaz. E isso tudo tem início no departamento de RH.
Confira a seguir a entrevista com Valéria Andrade, diretora de RH da Kelly Services Brasil, líder global em soluções para Recursos Humanos, sobre o desenvolvimento deste mercado e suas perspectivas.
Carreira & Sucesso – Recursos humanos é uma área que cresceu bastante no Brasil nos últimos anos. A se que deve este crescimento?
Valéria Andrade – Nos últimos anos a área de recursos humanos tem passado por uma grande mudança, deixando de ser totalmente operacional/transacional e passando a ser vista como uma área parceira na gestão de pessoas, onde gestores e empresas têm se aliado como parceiros estratégicos para a tomada de decisões importantes para a companhia, refletindo diretamente no potencial de seus recursos.
C&S – Como está o mercado de trabalho para o profissional? As contratações estão em alta?
Valéria – As contratações estão em alta, só que as competências procuradas nos profissionais de RH mudaram completamente. As empresas estão em busca de profissionais que sejam muito bons nos aspectos técnicos, que conheçam muito sobre os processos transacionais de RH – mas também do negócio – e que tenham um olhar crítico e estratégico em seus direcionamentos.
C&S – Quais são os ganhos para as empresas que investem na área?
Valéria – Quando falamos do novo perfil de recursos humanos, os ganhos para as empresas que investem nesta área são muito grandes. O capital humano é o principal bem e também a principal fonte de custo das empresas. A folha de pagamento chega a custar de 20% a 30% do faturamento de uma empresa e conseguir tirar o melhor deste recurso é muito importante. A empresa ganha quando capitaliza este recurso, aumentando eficiência e produtividade por meio de práticas de engajamento e motivação, pois um grupo motivado vai trazer muito mais retorno para tomadas de decisões futuras.
C&S – Quais são as principais responsabilidades da equipe de RH de uma empresa?
Valéria – Hoje ela tem que estar muito antenada com os negócios. Deve, obviamente, conhecer de práticas de recursos humanos, mas também do negócio daquele segmento no qual ela atua, para que possa propor ações que alavanquem os resultados. Estamos falando de um processo de gestão de pessoas integrado onde o profissional de RH está ali como um suporte de negócio.
C&S – Quais consequências um trabalho ruim de gestão de pessoas pode trazer para a corporação?
Valéria – Uma catástrofe. Práticas de RH não consolidadas podem afetar diretamente a produtividade. Pessoas podem não responder de acordo com o esperado e, em casos piores, o turnover pode ser muito alto com ruptura de negócios, além de criar margem no mercado para a concorrência.
C&S – Quais são as competências exigidas de um profissional de RH hoje?
Valéria – Hoje o profissional tem que entender muito daquilo que se propõe. Mais do que nas suas áreas transacionais, como folha de pagamento, remuneração, treinamento e desenvolvimento, ele tem que entender do negócio. Se estiver em uma empresa de prestação de serviço, é preciso entender de prestação de serviço, saber o que os concorrentes fazem e ter uma clara ideia de quais são as fortalezas e as fraquezas do negócio. É preciso também entender de finanças, saber, por exemplo, o que é um P&L (demonstrativo de lucros e perdas), se as ações que ele vai propor vão agir diretamente no resultado e na cultura que se vai estabelecer, sendo ele um agente de mudanças no qual as pessoas confiam como suporte à liderança. É uma atividade muito generalista, que vai permear toda a atividade da companhia com um olhar muito estratégico de como e aonde ela irá e como fará para chegar lá.
C&S – Qual a tendência da área para os próximos anos?
Valéria – A tendência é continuar com esse olhar mais estratégico. Esse foi um passo dado que não volta mais, mas ainda estamos longe do estágio adequado. Ainda existem áreas de RH em algumas empresas que atuam de forma muito operacional. São poucas as empresas que enxergam o departamento como parceiro estratégico. Fala-se muito, mas ainda existe pouco espaço. Na hora em que realmente você vai se posicionar ou propor programas, as empresas ainda reagem como se a área fosse transacional. Mas esse é um caminho que está mudando. As empresas que já perceberam isso saíram na frente e, com certeza, estão em vantagem competitiva em relação à lucratividade e à produtividade, se comparada às demais. O caminho é esse: o RH como parceiro estratégico do negócio, tomando decisões junto com as demais áreas e, assim, cada vez mais presente e cada vez mais exercendo um papel de influência.
