Daniel Limas
Você ainda acredita que jogos e simuladores servem apenas para o entretenimento e alienação de crianças, jovens e adultos? Felizmente, esse conceito está mudando nos últimos anos e a tecnologia já ajuda empresas, estudantes e profissionais em busca de conhecimento.
Pois existem competições nacionais e internacionais, que, por meio de simuladores, testam habilidades e conhecimentos de estratégia e gestão em diferentes cenários. Uma delas é a Global Management Challenge (GMC), que é considerada a maior competição internacional nessa área e, neste ano, completou 30 edições. Apesar de competir com equipes de todo o mundo, o Brasil não faz feio. A iTGO, equipe brasileira que participou da fase internacional da 30ª edição, realizada em abril deste ano, em Lisboa, chegou à semifinal do jogo.
Composta pelos estudantes Mauro Seiji Fukunaga, Marcos Massanori Takizawa, Thiago Ribeiro Takahashi, Marcelo Toshio Uenoyama e Marcelo Takizawa, esses dois últimos alunos atuais do Curso de Especialização em Administração para Graduados (CEAG) da Escola de Administração de Empresas de SP da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), a equipe iTGO também foi a vencedora das duas últimas edições do Brasil GMC, etapa brasileira da competição. Mas, Mas, antes de tudo, é fundamental explicar um pouco sobre este jogo.
“O GMC nada mais é que uma competição de gestão e estratégia. Sem nenhum risco para a empresa, o participante pode simular inúmeras tomadas de decisões. É como se ele fosse o CEO da organização”, explica Awdrey Ribeiro, gerente do GMC no Brasil. Ela ainda conta que o simulador traz diversos cenários econômicos e financeiros para o aluno, que deve traçar estratégias. Por exemplo, é possível verificar o que acontece caso a equipe decida vender o produto mais barato ou mais caro, contratar muitas pessoas para a linha de produção, vender mais pela internet, ter margem de lucros maiores, ser vítima de uma boato de aquisição, entre diversas outras variáveis.
“Os profissionais podem ler, estudar, fazer cursos, ter aulas, mas só a partir de um game que você aprende na prática sem correr qualquer risco”, aponta Awdrey. Ela continua explicando como é a metodologia do Global Management Challenge: todos os competidores recebem informações sobre uma mesma empresa fictícia e o mercado onde está inserida. Cada grupo deve traçar estratégias para vender os produtos desta organização para diferentes mercados, incluindo a definição de preço, máquinas para produzir, funcionários necessários, custos de produção, matérias-primas, turnos, investimentos em marketing, dividendos para acionistas, enfim, tudo o que se espera de uma empresa.
Ou seja, a equipe deve entender muito sobre as quatro grandes áreas da gestão: Recursos Humanos, Marketing, Produção e Finanças. “Nesse contexto, os estudantes podem encarar greves, perda de importantes funcionários devido aos salários baixos, absenteísmo elevado, etc. Outro diferencial é que o GMC não é uma competição para avaliar os resultados isolados da organização. Ela avalia segundo as decisões e resultados dos outros grupos concorrentes”, esclarece Awdrey.
Portanto, a decisão do grupo deve ser a mais acertada e equilibrada. “Na hora da avaliação, leva-se em conta as reservas financeiras e o grau de endividamento causado pelas decisões. Assim como na vida real, não adianta uma empresa ter apenas preço e lucro muito bons. Uma série de indicadores devem ser avaliados como, por exemplo, se o investimento em Marketing foi absurdo ou se o grau de endividamento é muito elevado”, explica.
Aprendizado
O que o estudante ganha ao participar do Global Management Challenge?
“Um participante do GMC adquire muita agilidade ao tomar decisões dentro de uma organização. Seu raciocínio fica muito mais lógico, rápido e já está treinado a analisar as situações antes de decidir algo”, enumera Awdrey. Além disso, o participante aprende a trabalhar em equipe – pois na competição, todas as decisões são feitas em conjunto – e sabe o quanto uma decisão qualquer impacta em diferentes áreas da empresa.
Ela exemplifica: o Marketing tem a meta de aumentar o faturamento em 10% no ano. Enquanto isso, o Faturamento tem meta de reduzir a inadimplência a zero. Ou seja, o Marketing quer vender e o Faturamento segurar o crédito. “Nessa competição, é possível ver as consequências de cada decisão”, explica. Outra vantagem de quem participa dessa competição é saber trabalhar sob pressão e ter a experiência de avaliar objetivamente indicadores e ter criatividade para traçar as melhores estratégias.
Marcelo Takizawa, um dos integrantes do iTGO e analista de informação sênior na indústria farmacêutica Boehringer Ingelheim, que já participou de cinco edições é da mesma opinião. “O maior aprendizado é o pensamento estratégico. Você aprende a entender o negócio com um todo. Consegue traduzir os indicadores e resultados, analisar os erros e os acertos, avaliar a história e entender os competidores. Mas antes disso, temos de compreender o que é um balanço financeiro, o que é um fluxo de caixa e diversos outros detalhes da empresa desde a produção ao Marketing. É aprender a ter a visão macro de um CEO”, explica o engenheiro.
Esse, por sinal, é um dos seus objetivos profissionais. “Hoje, imagino duas opções: ser CEO da minha própria empresa ou ir subindo de cargo dentro de uma organização”, aponta. “Até por isso me formei em engenharia, mas logo fui buscar uma pós-graduação em Administração”. Outra vantagem apontada por Marcelo é poder ampliar a rede de contatos, o chamado networking. “Acabamos conhecendo muitas pessoas de outros países e nos expomos para as empresas patrocinadoras do GMC”.
Awdrey aproveita para recordar que existem casos de participantes do GMC que já ocupam cargos importantes em algumas organizações. “Lembro-me de um caso de um estagiário do Santander que venceu a etapa internacional, que foi estudar na Espanha com apoio do banco e que hoje virou diretor. Há também o caso de um português que veio para o Brasil e virou superintendente de novos negócios da Energias do Brasil”, aponta. “Ou seja, as empresas realmente entendem que os participantes desta competição são profissionais já prontos e diferenciados e, no mínimo, mais esforçados que outros estudantes, já que estudam, trabalham e ainda encontram tempo para participar do GMC”, finaliza.
Inscrições
O ideal é que a equipe (três a cinco pessoas) seja composta de estudantes (graduação ou pós) nas áreas de Administração, Engenharia, Finanças, Marketing e Contabilidade para garantir conhecimentos nessas diversas áreas.
Os interessados devem ler as regras do Global Challenge Management no site www.globalchallenge.com.br e enviar um e-mail para globalchallenge@ibcbrasil.com.br.